sábado, 4 de julho de 2009

Posted by Grupo de coroinhas São Domingos Sávio On 18:42 0 comentários

Parábola de um Pai que ama

“Continuou: Certo homem tinha dois filhos; o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe. E ele lhes repartiu os haveres. Passados não muitos dias, o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para uma terra distante e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente” (Lucas 15:11-13).

A Parábola do Filho Pródigo é a que conclui e a mais comovedora das três parábolas que Jesus ensinou para defender o seu tratamento com os pecadores. Poderia ter sido chamada Parábola de Um Pai que Ama ao invés de Filho Pródigo porque abre o coração de Deus e expõe os pensamentos dos homens pecadores. Mais ainda, era o filho mais velho ao invés do mais novo que Jesus queria que os seus críticos vissem, pois como ele, eles estavam tão perdidos quanto os “pecadores” que desprezavam, mas na sua arrogante auto-justiça, eles não o sabiam. Eles eram, de fato, os verdadeiros pródigos. Nesta parábola, Jesus propõe assegurar aos pecadores escarnecidos a grandeza do amor perdoador de Deus e de repreender até causar o arrependimento da arrogante insensatez dos seus críticos.

Esta parábola é uma história comovente do amor de um pai por seus dois filhos perdidos, cujo propósito é nos fazer sentir a sua angústia e a sua alegria. Uma ovelha perdida e uma moeda perdida, uma vez encontradas, podem facilmente ser endireitadas, mas o que se pode fazer com um filho teimoso e rebelde? Você pode repor uma ovelha ou uma moeda perdida, mas como se repõe um filho perdido? “Perdido” e “encontrado” chegam a sua intensidade total nesta história final.

O mais jovem dos dois filhos, contencioso para com seu pai e determinado a levar uma vida própria, exige adiantado a sua parte da herança (um terço, Deuteronômio 21:17). O seu orgulho e a sua rebelião afastaram todos os pensamentos da bondade do seu pai ou da dor que a sua partida trará. Neste momento, ele está completamente cheio de si mesmo. Não é uma imagem bonita.

O pai, sabendo muito bem do erro do menino, dá a ele sua herança e olha a partida do jovem – confiante, ingrato e sem noção do que lhe espera. Podemos questionar por que o pai não impediu o seu filho. A razão é simples: ele não impediu porque não poderia, pois no seu coração o menino já havia partido, ele já estava na “terra distante”.

Sem dúvida, o pródigo fez a sua viagem relativamente intoxicado com sua liberdade recém encontrada. Ele devia ter intenções de mais cedo ou mais tarde fazer a sua marca na vida, mas sem ninguém a quem responder e sem ninguém pra ligar, ele rapidamente acabou com sua herança numa orgia da carnalidade, e a liberdade na qual ele havia se exaltado logo virou o tipo mais abjeto da escravidão. Uma fome repentina o reduziu a última degradação (para um judeu) – cuidar de porcos para um homem que o manteve num estado de quase morto de fome. A terra distante tirou-lhe tudo que tinha e nada lhe deu. A própria liberdade que o havia seduzido agora praticamente o destruiu. Ele é o mais baixo de todos os servos.

Este jovem é um modelo perfeito do percurso egoísta da humanidade. Nós também recebemos uma herança rica de Deus – corpos sadios, mentes boas, relacionamentos amorosos, um mundo lindo. Ele “nos proporciona ricamente para nosso aprazimento” (1 Timóteo 6:17) com apenas uma provisão, que devemos reconhecer, agradecidos, a sua bondade. E o que temos feito? Nós pegamos estes presentes como se fossem nossos por direito e os desperdiçamos em empreendimentos que são ou pecaminosos ou sem sentido. A “terra distante” não é um lugar mas sim uma atitude. É a arrogância impensada que diz que não precisamos do Deus que nos criou e que estamos cansados de ele se metendo em nossas vidas. Então, declaramos independência daquele que nos dá ”vida, respiração e tudo mais”, daquele que até nos deu a independência! É quase impossível imaginar ser mais burro do que isso. Foi exatamente desta maneira que Paulo descreveu a degradação do antigo mundo gentio, “porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Romanos 1:21).

O “filho pródigo” é visto frequentemente como substituto por bêbados, viciados em drogas e atletas sexuais. Mas isso é um erro. Há muitos pródigos retos que desperdiçam os dons de Deus numa busca “respeitável” da riqueza ou do poder ou da sabedoria humana. As vidas são jogadas no lixo em escritórios luxuosos tanto quanto em favelas. Você pode encontrar a “terra distante” em muitos lugares.

O pecado é um desperdício. Leva tudo que é precioso e insubstituível e o destrói. E isso acontece porque tentamos pegar as nossas vidas para nós mesmos ao invés de entregá-los a quem, na sua bondade as entregou a nós inicialmente (Mateus 16:25).

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Posted by Grupo de coroinhas São Domingos Sávio On 07:09 0 comentários

Preparados para sua presença

A Parábola do Traje de Casamento (Mateus 22:1-14) é tão semelhante à Parábola da Grande Ceia que algumas pessoas julgaram-nas como sendo a mesma parábola relatada de maneira diferente. Elas se relacionam com o mesmo tema de uma maneira notavelmente semelhante, mas sua ênfase é diferente. Ambas as parábolas retratam o reino de Deus como uma festa alegre e falam do desprezo de Israel pela bondade de Deus e de sua posição favorecida. Ambas falam da graça de Deus para com os “indignos” e o tipo de povo que mais provavelmente receberá seu reino com alegria. Mas a Parábola do Traje de Casamento acrescenta violência desdenhosa e assassinato às insensatas descortesias ressaltadas na Grande Ceia e contém sinistras advertências de áspera retribuição. Isto não é surpreendente numa parábola contada nas últimas horas da última semana do Senhor, e pode bem se referir à brutal perseguição judaica que estava próxima de rebentar contra ele e seus seguidores. Era uma advertência severa num tempo crítico.

Na parábola do Traje de Casamento, a festa é elevada de apenas uma ocasião social de um homem rico para a festa de casamento do filho de um rei, um caso que ocorre uma vez na vida. E com esta mudança é muito mais ressaltado o tamanho da afronta oferecida pelos hóspedes convidados originalmente e as dimensões de suas conseqüências. O rei não pode tolerar este insolente desprezo por sua majestade, e ainda mais porque seus servos não foram enviados para coletar alguns impostos onerosos, mas para emitir um gracioso convite. Na primeira parábola os convidados apenas perdem a festa; na segunda eles são privados de suas vidas (Mateus 22:7). Como diz aos Hebreus, “... como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hebreus 2:3; cf. 10:28-29).

Contudo, o que sobressai e dá uma identidade especial a esta parábola não é o comportamento daqueles que não comparecem, mas daquele que compareceu: o homem sem traje de casamento. A natureza deste caso tem sido muito debatida por estudantes das parábolas. Tem parecido incongruente para alguns que o rei fosse tão sensível a respeito da roupa de um grupo de pessoas mais humildes, recolhidas nas ruas (Mateus 22:10)! Ela, de algum modo choca, em suas mentes, com o generoso convite estendido a pessoas de todas as classes. Onde essas pessoas, convocadas apressadamente, teriam achado tais vestimentas?

Tudo isto tem feito muitos comentadores concluirem que as vestimentas foram fornecidas pelo anfitrião, deixando até mesmo os mais pobres ou convidados às pressas sem desculpa. Qualquer que seja a circunstância, o homem em questão não achou justificação para si e foi sumariamente lançado fora por essa mesma razão (Mateus 22:12-13). Este caso torna claro que o tratamento sem cerimônia do reino de Deus, quer por aqueles que nunca o recebem, quer por aqueles que o recebem, trará imediata retribuição. Desprezo é desprezo. Indiferença é indiferença. Podem aqueles que foram uma vez salvos ser perdidos? Esta parábola responde com clara afirmação. Que ninguém abuse da graça de Deus (Romanos 6:1).

Não é preciso dizer que, mesmo em nossa era democrática, não se entra na presença da realeza negligentemente. Precisa-se ser treinado nas conveniências da roupa e da conduta. Isto é muitas vezes mais verdadeiro para aqueles que se propõem ficar na presença do Deus vivo. Precisa-se vestir o espírito submisso do temor reverente para se propor comer pão no reino celestial. Podemos, na verdade, não ser capazes de apresentar-lhe a vida sem pecado que ele verdadeiramente merece, mas o mais pobre de nós é absolutamente capaz de levar uma devoção de mente sincera e obediente. É verdade que em sua misericórdia Deus vestiu seu povo com uma justiça que não é deles mesmos, mas há uma atitude de coração que só nós podemos atingir. Na sua linguagem, o apóstolo Paulo diz: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão e de longanimidade” (Colossenses 3:12). Tal espírito cresce da percepção de que estamos sempre na presença do grande Rei e precisamos estar vestidos para a ocasião.

O pensamento da ira divina é amedrontador. Na pregação, ele é, às vezes, totalmente negligenciado. Mas ambas as parábolas da “festa” ressaltam-no. Na primeira, o anfitrião enraivece-se pela desdenhosa rejeição da sua bondade e declara definitivamente que “nenhum daqueles homens que foram convidados provará da minha ceia” (Lucas 14:21, 24). Na segunda, a ira do rei sobe. Furioso com aqueles que desdenharam sua festa e brutalizaram seus mensageiros, ele envia seus exércitos para destruir tanto eles como sua cidade (Mateus 22:7) – será uma referência à destruição de Jerusalém?). E se a punição do homem sem vestimenta de casamento parece branda, em comparação (Mateus 22:13), é preciso ser lembrado que Jesus freqüentemente usou estas mesmas palavras para descrever o julgamento dos ímpios (Mateus 8:12; 25:30). Eles são sinistros, com angústia eterna.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Posted by Grupo de coroinhas São Domingos Sávio On 06:27 0 comentários

A arte da oração



Quem não reza está numa situação muito desconfortável

Rezar é um ato natural, um capítulo da antropologia, exatamente porque o ser humano tem uma abertura congênita para o transcendente, o divino. Rezar é também um ato de justiça para com nossa alma, pois a oração é expressão do espírito, da alma, do coração. É também um ato de justiça em relação a Deus. “Nele somos, vivemos e existimos” (Atos dos Apóstolos 17, 28).


A oração é antes de tudo terapêutica porque pacifica, unifica, ordena a vida, os pensamentos e os afetos. “Os efeitos da oração em nossa pessoa são mais visíveis que os das glândulas de secreção interna”, diz o prêmio Nobel de Medicina (1922), Dr. Alexis Carrel, ateu convertido.


A arte da oração consiste em que o orante se comunica com Deus, com os outros e com ele mesmo e assim faz grandes descobertas, encontra soluções, recebe iluminações e muita força interior. K Jung e V. Frankl são psicólogos que exaltam a importância e a eficácia da oração, sem a qual, as pessoas não se curam de suas neuroses. Eles sabem muito bem que a pessoa orante entra no nível alfa, frequência profunda do cérebro humano.


Quem não reza está numa situação muito desconfortável e até incômoda, porque irá buscar alívio e sedativo no álcool, nas farras, nas drogas e sempre permanecerá vítima do vazio existencial e da solidão. Sempre justificará seus erros e fugas, tendo necessidade espontânea de ridicularizar quem reza, como se a oração fosse o “catecismo dos fracos e perdedores”. De fato, só os humildes e autênticos rezam.


É preciso orar com fé. Acreditar no poder da oração. Rezar é estar com Deus e com os outros. Normalmente a oração verdadeira e profunda leva à compaixão, ao perdão, à solidariedade. O amor é fruto da oração. Rezar é um ato de amor e o amor é consequência da oração. Os santos e os místicos são sempre pessoas de paz, de fraternidade e de ação em favor dos pobres e pecadores. A oração é amor de amizade com Deus que nos leva ao amor-serviço para com os outros.


A oração é uma “alavanca que move o mundo” (Santa Terezinha). De fato, quantas pessoas são vitoriosas frente a doenças, mágoas, decepções, injúrias. A oração as salvou. Quem reza se salva.


A oração é uma ponte. A pessoa orante é fabricadora de pontes, é pontífice. Abatem-se os muros e constroem-se pontes com a sabedoria da prece. Essa ponte vai da terra ao céu e do coração do orante aos irmãos. A escalada da oração é exigente, requer perseverança. É um combate.


A oração é muralha, é escudo, é proteção, é abrigo, é segurança. Quem reza está imunizado contra muitos males. A oração nos protege das tentações. Sem ela caímos na murmuração e abraçamos a tentação.


A oração é escola . O Mestre interior é o Espírito Santo. Na escola da oração aprendemos a prática do bem, a beleza do perdão, a alegria da convivência, a esperança nas decepções. A oração nos faz discípulos, iluminados, sábios, humanos e verdadeiros. Moisés tinha o rosto iluminado após a oração. Irradiava o fulgor de Deus.


A oração enche o orante de audácia e coragem, de força e tenacidade, de luz e compaixão. Jesus não somente reza, mas, ensina a rezar, principalmente a perseverança na oração. Os primeiros cristãos eram “assíduos na oração” (cf. Atos dos Apóstolos 2, 42). De fato, a oração é inspiração de cada momento, recolhimento do coração, recordação das maravilhas de Deus, é força para a luta cotidiana. Eis a arte da oração.


A oração é uma rendição diante de nossa insuficiência e da paternidade de Deus. A oração é a fala entre filhos(as) e Pai. Portanto, oração é questão de amizade, é encontro de duas consciências, duas intimidades, duas existências. Na oração acontece uma troca de olhares, de confidências, de interioridades. Rezar é um ato de amor, um ato afetivo que inflama o orante de amor a Deus e ao próximo.


Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Londrina - PR